Um encontro com
Carmelo Patti,
sua aula, suas lições
e seus grandes vinhos
Por José Petit Rodrigues
A van para na porta da bodega e o próprio Carmelo Patti mostra, sorridente, o local para o motorista estacionar. Ao descermos, cumprimenta um a um os integrantes do grupo, indica uma porta, mas todos dão uma passadinha no depósito dos cobiçados vinhos.
Uma construção de alto pé direito para manter o frescor - uma verdadeira garagem... - e um fato curioso: as garrafas estavam armanzenadas de cabeça para baixo, conforme o desenho das caixas indicava.
Na salinha, nada de luxo. Uma bancada com garrafas de vinho espalhadas, esperando a degustação. E Carmelo Patti, sempre com muita simpatia e uma certa cumplicidade, começou a falar sobre a guarda de vinhos, passando a nós seu vasto conhecimento sobre guarda das garrafas, já que seus vinhos são de guarda, como os melhores europeus.
A primeira coisa que fez foi retirrar a capsula e mostrar a rolha. Para ele, o vinho deve ser guardado deitado e - o detalhe - sem a capsula, para permitir melhor descanso para o vinho. E continua falando, já com uma rolha na mão. Mostra aquela ideal, com a mancha de vinho não invadindo a tampa. Ressalta que essa mancha pode penetrar mais profundamente e, até pouco menos da metade, é normal.
Pega outra rolha e chama a atenção: um filete de vinho em toda a extensão revela que o produto está estragado, pois houve a entrada de ar. E termina com uma dica: sabe aquela rolha seca, que a gente tem medo de quebrar quando vai abrir a garrafa? Carmelo pega um isqueiro, esquenta a boca da garrafa e, como num milagre, a secura cede. Garrafa aberta, hora de beber vinho.
Vamos para uma outra sala maior, Um grupo de pessoas de várias nacionalidades se incorpora e ele repete, com a mesma didática, os segredos de guardar os vinhos e tomar cuidado com a rolha. Muito interessante, mesmo sendo a segunda vez que assistiamos.
Depois dessa aula, outra, agora sobre vinhos, a paixão da vida de Carmelo Patti, um imigrante italiano que chegou aos dois anos de idade na Argentina e que procura incorporar os conceitos italianos de vinho. E a vontade de provar vai aumentando, até que chega a hora: um a um, ele explica sua intenção ao fazer o vinho, com detalhes que só os verdadeiros apaixonados pela bebida conseguem produzir. Coisa de alma.
Vamos provando, comentando, aprovando, numa verdadeira roda em que as linguas - ainda não enroladas - eram faladas e entendidas, dada à universalidade do vinho (uma dúvida que me ocorreu agora: teria faltado vinho em sodoma e gomorra?). Numa cena surreal e incacreditável, ao embarcar na van e olho uma empilahdeira colocando um paletts de vinho num veículo. Operado por quem? Carmelo Patti, ora...
Já conhecia Carmelo Patti e seus vinhos e estivemos juntos numa degustação em São Paulo, mas confesso que aqueles bebidos ali na bodega estavam melhores: companhia, ambiente e cumplicidade são essencias para beber um vinho.
No ponto final da degustação, um ponto inicial mostrando que a vida continua: comprar algumas garrafas a um preço bem legal para guardá-las até que a cobiça (nesse caso um pecado perdoável) seja derrotada pela leve realidade de que bebê-lo é preciso. Ocasião em que parte da alma de Carmelo Patti estará conosco, com certeza.
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