quinta-feira, 23 de abril de 2015

Carta aberta de Alejandro Vigil aos seus amigos



Carta aberta aos meus queridos
 
Texto de Alejandro Vigil


A Petit Verdot prestou homenagem a Alejandro Vigil, enólogo chefe da Catena Zapata e criador de El Enemigo no Dia Mundial do Malbec. Aqui, publica texto que revela um pouco de sua alma e explica por que os vinhos dele são tão bons.
 
 
 
Dias de alegria
     Tenho lampejos de recordações, lampejos, porém, que invadem as sensações. Os aromas da manhã quando se acendia o fogão a lenha com os gravetos da poda, os molhos com que e minha avó cozinhava os nhoques, os assados, o vinho, o amor de casa, os aromas paternos, o conforto do abraço...
 
     Os anos passam e estas sensações se impregnam quase na genética e se tivermos sorte, podemos transmiti-las aos nossos filhos. São coisas que não se perdem,sensações tangíveis e intangíveis que sobrevoam a alma e apertam o coração.

     Há alguns meses caminhava por uma vinha e algumas recordações codificados no meu DNA saíram,sensações que perdi por um lapso de tempo, como uma amnésia temporária.

Catarata vermelha
     Enquanto meus pés pisavam as ervas, as pedras e o solo, os dedos se mesclavam, mas bem se fundiam, voltei a sentir esse aroma: a terra húmida, a montanha, a jarra. Os brotos da vinha ao roçarem eriçavam meus pelos. O frio do orvalho molhava meus dedos, em pares na sinfonia, a uva intacta, imóvel, mas mostrando sua cor; o sol picando na pele... . Isso me levou a muitos anos atrás, muitos caminhos, muitos mundos em um só.


     Eu chego em casa e esses inseparáveis momentos preparam o assado, o vinho volta a ter sentido, te olhas nos olhos e sabes onde queres estar, o que queres fazer. A terra para o meu corpo se move e o som e aroma quando cai o vinho na taça nublam a minha vista. Dois segundos depois sinto María, que me fala, quase sussurrando, e diz que me ama, enquanto as crianças correm para fora. É uma constelação perfeita, um momento único este sabor que está na boca.

     Sempre senti que podia mudar o mundo ao fazer vinho: um entra em ecstasy e pode se perder enquanto o vinho pode mudar o nosso espírito. Desfrutar das caricias no paladar, abrir o coração, unir e esquecer a decepção.
Vinhedo Adrianna
  
   A raiz do nosso amor sempre são recordações, coisas a rememorar que nos invadem e nos fazem voltar aos nossos prazeres iniciais, quando fazer vinho era um jogo,quando fazer vinho nos deixava nus frente ao outro, livres, a beleza do eterno e etéreo, a beleza de dor com uma razão.
  
   Voltar para o nosso compromisso com a cultura, os nossos antepassados, a nossa família e amigos.
Vinícola moderna

     Fazer vinho é uma forma de vida que nunca devemos virar as costas. Podemos ter amnesias de sensações,  mas não esquecer. Temos sempre que acordar e ver o amanhecer com alguém. Obrigado Maria.


  
 
 
 
 
 



 


 

Nenhum comentário:

Postar um comentário