O gosto das coisas
Há quanto tempo você
não pega aquele tomate apetitoso e devora-o sem sal ou qualquer outro tempero?
Uma pergunta simples e uma resposta supreendente: a maioria das pessoas,
especialmente as mais jovens, respondem que nunca fizeram isso. Mas comem
tomate e outros legumes e verdura, em saladas sempre bem temperadas.
Azeite,
sal, vinagre e outros temperos prontos são largamente utilizados, mascarando o
verdadeiro gosto das coisas. Ao caprichar no tempero, estamos, de fato,
assumindo que gostamos mesmo é do tempero, pois todos os produtos ficam com o
mesmo gosto.
É bem
provável que não suportemos o gosto de uma cenoura crua, por exemplo.
Preferimos o do vinagre e tome vinagre em tudo. Muito azedo? Variamos com o
balsâmico, que incrementa o sabores, é mais adocicado, mais leve e daí em
diante.
Nada
contra os temperos, já que a até a vida não sobrevive sem alguns deles. O que não entendemos é como a gente disfarça
tudo: tomamos bebidas super-geladas, com menos gosto e comemos coisas excessivamente
salgadas ou doces. Uns para disfarçar defeitos, outros para esconder sabores
que não gostamos.
Nesse
excesso é que está o pecado. Ele traz problemas de saúde, como aumento dos
casos de hipertensão, diabete e outras doenças que vão se agravando justamente
por conta desse consumo exagerado de produtos que disfarçam o verdadeiro sabor
das coisas.
Há
muitos anos ouvi o comentário de um indígena que trabalhava como garçom em
Itanhaém de que o índio não suava porque não comia sal. Pensei naquilo e comecei
a abolir o sal de minhas saladas. Continuo suando, mas comecei a descobrir que
por sí só os legumes têm um ótimo sabor. Aboli também os que eu não gosto e
hoje sinto prazer ao devorar uma cenoura inteira. Ou um tomate. Ou um talo de
alface americana.
Vamos
lá, que ninguém é de ferro. Quando coloco os vegetais num prato, raramente
dispenso o azeite, talvez até por tradições espanholas. Mas gosto muito do
azeite puro e acho que ele não chega a mascarar o sabor das coisas. Diferente
do vinagre ou do limão, que toma conta de tudo e se sobressai, anulando o
resto. E, nesse caso, o resto deveria
ser o principal, isto é a salada é composta basicamente de legumes.
Acho
que a gente deveria hoje mesmo assaltar a geladeira e saborear um belo tomate
antes que ele seja contaminado pelo vinagre. Comer um mamão sem açúcar,
aproveitando a doçura natural, mesmo que não seja na medida em que nosso sonho
açucarado nos impõe.
Redescobrir
o gosto das coisas vai acrescentar muito em nossa vida. Na outra ponta, vai
reduzir riscos de saúde e tornar mais suaves os penosos regimes decorrentes dos
excessos que todos cometemos. (Zé Petit Rodrigues)
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