 |
Alejandro Vigil, o mago dos vinhos
|
Bonarda de guarda?Haja paciência...
Por José Petit Rodrigues
Laura Catena conclui o capítulo sobre a uva Bonarda em seu livro Vinho Argentino com uma predição:
- Ninguém pode dizer ainda ao certo se é possível elaborar um Bonarda digno de ser envelhecido.
Alejandro Vigil acaba de responder com uma série de quatro bonardas, produzidas em diferentes e desconhecidas regiões vinícolas argentinas, todos com o rótulo El Enemigo. Dá para escolher entre o El Mirador, El Barranco, Los Paraisos e La Esperanza.Particularmente, recomendo comprar s quatro rótulos na Mistral (em oferta por R$ 806,00 em seis parcelas sem juro) e reunir os amigos para uma grande degustação em que poderão comparar e conhecer uma das maiores sensações do último Descorchados, realizado dia 9 de abril em São Paulo.
A própria Laura Catena produz o seu grande Bonarda, o La Posta Armando. Ela cita outros excelentes vinhos produzidos com essa uva, mas não dá para comparar. O El Enemigo beira a perfeição, o estado da arte dessa uva.
Aliás, em silêncio, Alejandro Vigil está revisitando as uvas tradicionais da Argentina e que primavam por garantir grandes produções de qualidade discutível a média. Com a Torrontés, aconteceu a mesma coisa. Susana Balbo, a primeira enóloga argentina, deu uma domada nessa uva em Salta, tirando o amargor final, que contrastava com a forte presença de frutas. Deu elegância ao branco tipicamente argentino.
Na revisita que fez à uva, Alejandro Vigil criou o Gran Enemigo Torrontés usando o método sur lie, ou "sobre as borras". Sim, o vinho é mantido em contato com as borras, que posteriormente são destruídas espontaneamente, gerando uma bebida bem singular, surpreendente.Voltemos à bonarda, mais precisamente aos El Enemigo. São produzidos em quatro vinhedos diferentes, mostrando o comportamento da uva em diferentes terroirs:
1. El Mirador - Produzido em Rivadavia, no vinhedo Mirador, que tem mais de 90 anos. Descansa em foudres antigos, que são grandes barricas que proporcionam menor contato com a madeira. Produção de menos de 7 mil garrafas. (93 Suckling, 91+ Parker)
2. El Barranco - Uvas produzidas em vinhedo de 70 anos, em regiao mais quente e arenosa e o vinho descansa em foldres de cerca de 100 anos. (94 Suckling, 91+ Parker)
3. Los Paraísos - Produzido em Rivadavia em solos de argila e cascalhos que proporcionam um vinho mais denso. (94 Suckling e 92 Parker na safra 2019, à venda no Brasil)
4. La Esperanza - Apenas 7.700 garrafas deste Single Vineyard 2020 produzido com uvas de San Martin, no leste de Mendoza e considerado muito elegante, bem suculento como todo Bonarda há de ser. (94 Suckling, 83 Adega, 92 Atkin e 90 Parker)
Aqui, um parêntesis: Antes de finalmente aceitar os insistentes convites de Nicolas Catena para ser o enólogo chefe da vinícola, Vigil era o agrônomo que mais conhecia o solo argentino. Portanto, revelar terroirs desconhecidos é uma especialidade dele.
Concluindo, uma pergunta: esses são os bonardas de guarda preconizados por Laura Catena? Dificilmente alguém saberá, pois é impossível guardar por algum tempo esses vinhos que mexem com nossa imaginação. Vamos, pois, bebe-los. Afinal, já atingiram o estado da arte.
Bonarda e sua origem
Tenho para mim que a Bonarda é a prima mais forte do Malbec, mas os entendidos dizem que é o contrário. Eu pensava que era de procedência italiana, mas provei alguns bonardas italianos e fiz minha opção pelo argentina. Até uns 15 anos atrás, acreditava-se que era uma casta hermana de nascença, mas pesquisas concluíram que não se tratava da homômima piamontesa, mas sim a Corbeau francesa. Conhece? Nem eu,..