domingo, 20 de outubro de 2024

Enóloga Sónia Martins: A arte de fazer vinho começa com a boa uva

 Enóloga Sónia Martins:

A arte de fazer vinho começa com a boa uva


Por José Petit Rodrigues


Sónia Martins. Conhece? Provavelmente, não. Mas já bebeu muitos vinhos que ela produz com muito carinho. Foi a enóloga portuguesa que deu a partida na nossa vinícola nordestina Rio Sol, onde trabalhou de 2003 a 2008. De volta à Terrinha, Portugal, envolveu-se num projeto ambicioso da Lusovino no Dão e a fazer um dos meus vinhos preferidos daquela região, o Pedra Cancela.
Em recente degustação em São Paulo, brinquei com ela: você domou o vinho do Dão; é uma domadora de vinhos? Ela abre o sorriso largo, marca registrada de sua simpatia pessoal e explica:

- Mais do que fazer um vinho, temos de cuidar da uva, pois não se faz um bom vinho com uva ruim.

Mas  o vinho precisa de alma, de sensibilidade e isso não falta à Sónia, sempre preocupada em fazer o produto para as pessoas comuns, não para os enólogos.

- Os gostos são diferentes, mas pensamos nas pessoas comuns que vão beber o vinho. Por isso, penso em vinhos mais fáceis, que todos possam gostar.

Essa opinião não implica em fazer vinho ruim. Sónia seria incapaz de fazer uma coisa dessas. Talvez a melhor explicação esteja no que ela produz na Bairrada, região da Baga, uma uva pesada, que não cai no gosto do brasileiro.

O Regateiro é o contrário disso: um vinho frutado, fácil de beber e com uma leveza surpreendente para a Bairrada. Tive que morder a língua, já que não sou muito chegado à Baga. E esse foi um dos meus preferidos na recente degustação da importadora TDP. Justiça foi feita...

A Lusovino atualmente produz o Pedra Cancela no Dão, Sericaia no Alentejo, Regateiro na Bairrada e Palavrar no Douro, em homenagem ao poeta Fernando Pessoa. Produz também o Perereca do Monte, um vinho de entrada mais comercial, muito doce para o meu gosto.

A cada região, Sónia respeitou sua filosofia: boa uva para produzir bom vinho. Esse cuidado é uma garantia de qualidade para os consumidores de vinho e foi plenamente premiada. Ela foi eleita a melhor enóloga portuguesa em 2019.

Sónia é grata à experiência que adquiriu na Rio Sol, vinícola pernambucana no Rio São Francisco. Ela trabalhou ali de 2008 a 2013, convivendo com uma experiência única no mundo: a produção de vinho nos 12 meses do ano. "Aprendi muito lá e era muito bom. Quando tem um problema numa safra, corrigimos na do ano seguinte, mas lá a correção era no mês seguinte".

E Sonia se sente muito à vontade no Brasil. a ponto de dizer:

- Se não fosse portuguesa, gostaria de ser brasileira.


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